“Prova da capacidade de resistência do povo negro”. Desta forma, o presidente da Comissão de Cultura da Câmara Municipal de Salvador, vereador Sílvio Humberto (PSB), definiu sinteticamente a importância dos 25 anos da realização do I Seminário Nacional de Universitários Negros e Negras (Senun). Na noite desta quinta-feira (22), semana da Consciência Negra, a atividade que ocorreu entre 3 e 7 de setembro de 1993, na Universidade Federal da Bahia (UFBA), foi relembrada e celebrada em sessão especial no Plenário Cosme de Farias.
O I Senun reuniu cerca de 800 participantes, foi considerado o mais importante evento do calendário afrobrasileiro daquele ano, e um marco na luta pela instituição das cotas raciais no Ensino Superior.
As presenças na sessão especial de históricos militantes, que lutam por uma educação mais inclusiva, demonstraram a representatividade que o seminário teve ao problematizar a inserção de negros no Ensino Superior.
Após a exibição de um vídeo com imagens do seminário, o propositor da honraria, com a voz embargada, externou a emoção por participar do ato da década de 90. “Êa, povo negro!”, convocou Sílvio Humberto no plenário da Câmara. “Era assim que nós nos cumprimentávamos no Senun”, completou.
Pensamento negro
De acordo com o vereador Sílvio Humberto, a realização do seminário foi determinante para a construção de espaços acadêmicos mais democráticos. “Fico muito feliz por ter participado daquele ato e hoje estar aqui, na Casa do Povo, para destacar a importância de continuarmos fazendo pontes e ousando”, afirmou.
Também presidente do Instituto Cultural Steve Biko, Silvio Humberto relembrou o contexto da realização do seminário, há 25 anos. “Foi algo absolutamente inovador. A ‘Biko’ estava dando os primeiros passos e conseguimos reunir estudantes de todo o país para discutirmos sobre a universidade que os negros queriam. Temos que defender o que acreditamos: uma universidade pública, gratuita e socialmente referenciada”, declarou.
A socióloga e ativista do Movimento de Mulheres Negras da Bahia, Ana Cláudia Pacheco, também enalteceu a trajetória de resistência do povo negro para a inserção nas universidades. “Essa sessão é fundamental para o resgate de uma memória histórica importante da população negra, que vem sendo excluída dos espaços formais da Educação Básica e também do Ensino Superior. Após 25 anos, melhoramos muito por causa dessas políticas afirmativas. O Senun abriu essa perspectiva e possibilitou reflexões fundamentais para os avanços que conquistamos”, testemunhou.
Para o diretor do Centro de Culturas Populares e Indenitárias da Secretaria Municipal de Cultura, Ronaldo Crispim, foi plantada no seminário a semente para a implantação da Lei nº 12.711, de 29 de agosto de 2012, que trata sobre as cotas raciais. “A universidade não foi mais a mesma depois do Senun. Colocamos novos paradigmas nas ciências sociais. Foi ali que começou a luta por cotas que, dez anos depois, se transformou em realidade”, lembrou.
Para ratificar, através da arte, o “pensamento negro” que pairou durante toda a sessão especial, a jovem Ingrid Luz, da Steve Biko, fez uma apresentação de dança afro e foi efusivamente aplaudida no plenário da Câmara.