“Quando você não conta a sua história, o outro conta do jeito dele”. Esse foi o resumo que o vereador Sílvio Humberto (PSB) fez da importância das marchas do Movimento Negro no Dia da Consciência Negra, comemorado nesta terça-feira (20), com sessão regimental no Plenário Cosme de Farias da Câmara de Salvador.
A atividade foi conduzida pelo parlamentar juntamente com o presidente da Comissão de Reparação da Câmara, vereador Moisés Rocha (PT). A sessão contou com a participação de alunos do 9º ano do Colégio Estadual Susana Imbassahy, localizado no bairro de Macaúbas.
“As marchas são um marco de visibilidade pública para as nossas lutas. A gente sempre resistiu. Resistimos à escravidão, ao pós-escravidão e ao preconceito. Lutar é o verbo que a gente vive”, disse Sílvio Humberto, presidente da Comissão de Cultura da Casa.
Retrocesso
“A maioria da população brasileira é negra. Somos 80% da população de Salvador e a grande pergunta nesse dia 20 de novembro é qual a marcha que você vai fazer? A de Zumbi dos Palmares, que lutou pela liberdade, ou a do retrocesso?”, questionou Moisés Rocha.
O vereador Luiz Carlos Suíca (PT) destacou a importância de se eleger representantes negros: “Não podemos simplesmente votar nos candidatos que nos são apresentados. Eu queria ver um negro aos 34 anos prefeito de Salvador e temo não conseguir. Nós não construímos nenhum governo ainda para amparar o negro. Nós estamos acostumados a consumir o que nos é apresentado”.
Os vereadores lamentaram o fato da Marcha da Liberdade não poder sair este ano por falta de patrocínio e destacaram a importância das marchas da Consciência Negra Zumbi dos Palmares, organizada pela Coordenação Nacional de Entidades Negras (Conen), e que completa 39 anos; a Contra a Intolerância Religiosa, com 14 anos; e a do Empoderamento Crespo, criada há três anos.
“A Marcha da Consciência Negra Zumbi dos Palmares foi a primeira do Brasil. No ano passado, reunimos 10 mil pessoas, mas já tivemos anos em que mais de 30 mil foram para as ruas. Essa marcha desmistifica a crença da democracia racial no Brasil. Ainda hoje continuamos com fortes nuances de racismo, que colocam barreiras na ascensão social do negro”, afirmou o coordenador do Conen, Gilberto Leal. A entidade foi representada na mesa da sessão pelo coordenador Cristiano Lima.
Coordenadora da Marcha do Empoderamento Crespo, Ivy Guedes destacou como o sentimento de pertencimento contribui para o fortalecimento da identidade dos negros: “A volta dos cabelos naturais é uma transformação importante para homens e mulheres negros. Nosso movimento surgiu dentro do ambiente virtual e agrega vários aspectos e temas da nossa luta. São pessoas fazendo a leitura do mundo ao redor e trazendo isso para o grupo”.
“Falar em resistência é exatamente destacar o protagonismo da população negra em uma sociedade marcada pelo racismo. É falar da luta das mulheres por uma democracia que tenha a sua marca”, afirmou a secretária estadual de Políticas para Mulheres, Julieta Palmeira. A secretária estadual de Promoção da Igualdade Racial, Fabya Reis, disse que o 20 de Novembro é o dia de reafirmar as lutas: “Nós devemos celebrar cada conquista. E essas marchas são o momento de reafirmar a luta e buscar nossos direitos. A democracia só será alcançada quando a questão racial for prioridade para nosso país”.
O diretor do Grupo Olodum, João Jorge, fez uma avaliação mais crítica da data. “Temos uma população negra em maioria e no dia 20 de novembro esperamos uma resposta da sociedade sobre os direitos dessa maioria. Isso mostra que o modelo colonial implantado em 1500 foi muito bem sucedido”, avaliou.