“A gente só vai parar de lutar quando esta Nação deixar de ser racista”. A afirmação da líder religiosa Makota Valdina Pinto soou como um grito de resistência ecoado no Plenário Cosme de Farias, em sessão especial realizada na Câmara Municipal, na noite desta segunda-feira (12). O evento em homenagem à Luta e Resistência dos Povos e Comunidades de Matriz Africana em Salvador foi requerido pela vereadora Marta Rodrigues (PT).
A solenidade teve início ainda em frente ao Paço Municipal, quando o povo de santo saudou o orixá Exú através do Ipadé – ritual que antecede cerimônias do Candomblé. No Plenário, o toque dos timbales do grupo Mesa de Ogan abriu os trabalhos.
Conduzida pela vereadora Marta, a sessão especial foi marcada pelo discurso de resistência racial e política. “As tentativas de intimidação das práticas sagradas de matriz africana são formas de apagar a presença negra, que é majoritária no Brasil, especialmente em nossa Salvador e na Bahia”, disse, condenando os ataques sofridos por estas comunidades religiosas.
Para Makota Valdina, o atual momento político do país representa retrocesso para os negros e adeptos das religiões de matriz africana. “Anos atrás estávamos iniciando o processo de resgate daquilo que nos foi tirado, mas foi tão pouco tempo que nem deu tempo para realizar nossos direitos”, avaliou a porta-voz. Makota ainda pediu sabedoria aos jovens, que “bebam na fonte dos mais velhos” e se empenhem na restruturação de estratégias políticas, utilizando o instrumento internet como aliado de comunicação e fortalecimento dos terreiros.
Representações
Presidente da Comissão Especial de Promoção de Igualdade Racial da OAB-BA, a advogada Dandara Pinho disse que o colegiado vem atuando em prol das comunidades desde 2015. Ao observar os convidados no plenário, ela defendeu a “ocupação dos espaços de poder”, em referência à baixa representatividade política. Já a radialista Cristiele França enalteceu o papel pioneiro da Rádio Metrópole, onde apresenta o programa Mojubá, voltado para as religiões de matriz africana. “A gente está neste momento aqui, em um prêmio que leva o mesmo nome do programa, porque a intenção é a mesma, tratar com respeito a nossa religiosidade”, afirmou. A mesa da sessão ainda contou as presenças do deputado estadual Bira Coroa (PT); a secretária de Promoção da Igualdade Racial Fabya Reis; o orientador social educativo da Federação Nacional do Culto Afro-brasileiro, André Luiz Siqueira Silva; e o babalorixá Jamilton de Ogum – Ilê Onirê. A atividade contou com apresentações dos poetas Jadson França e Crislaine Bahia, ambos do coletivo Crias da Mata.
Troféu Mojubá
O evento também foi marcado por homenagens com a entrega do Troféu Mojubá. “Tem o objetivo de dedicar respeito e agradecimento, não para alimentar a vaidade, mas sim como uma forma de dedicação de afeto a quem preserva a nossa ancestralidade, o nosso sagrado e a nossa cultura”, frisou Marta sobre a premiação.
Homenageados: Ekedi Gersonice Azevedo (Ilê Axé Iya Nassô Okà); Makota Valdina Pinto (Nzó Onimboyá); Iyalorixá Jacira Miranda (Ilê Axé Ibá Lugan); Iyalorixá Gilcélia Miranda (Ilê Sufuciãn Undê); Doté Amilton Costa (Humpame Savalu Vodun Zo Kwe); Babalorixá Sivanilton da Mata (Ilê Axé Oxumarê); Doné Hildenice Benta (Ilê Axé Jitolú); Babalorixá Waldo “Tayodê” (Ilê Axé Onin Ofá); Babalorixá Luiz Nepomuceno (Ilê Axé Oji Confé Olodum Omò); Iyalorixá Vânia Villaça (Ilê Axé Tolujá); Babalorixá Rosevaldo Menezes (Ilê Asé Jioronã); Iyalorixá Iaraci Santos (Ilê T’omín Kiosisé Ayó); Iyalorixá Jaciara Ribeiro (Axé Abassá de Ogum); Iyalorixá Bárbara Maria (Ilê Axé Oju Oya); Babalorixá Jamilton Souza (Ilê Axé Onirê Unxê Omi Oya); Iyalorixá Shirley Carmo (Ilê Axé Ominijá); Babalorixá Michel Franclim (Ilê Asé Bobo Mi Ala Furikam); Iyalorixá Maisa Bahia (Egbé Lcy Okutá Lewá); Babákekerê Itamário Fernandes (Terreiro Kidanadana); Omorixá Átila Alves (Ilê Axé Ayrá Intile Omi); Ekedi Cristiele França (Ilê Axé Oyá Mesi); e o Grupo Mesa de Ogan.