A Câmara Municipal de Salvador promoveu, na tarde desta quinta-feira (23), no auditório do Centro de Cultura, uma audiência pública que discutiu o Dia Estadual de Enfrentamento aos Homicídios e a Impunidade (26 de agosto). A atividade foi idealizada em conjunto pelo vereador Sílvio Humberto (PSB) e pelo Centro de Defesa da Criança e do Adolescente Yves de Roussan (Cedeca).
Com o auditório lotado de adolescentes que compõem grupos como Projeto Axé, Fundação Cidade Mãe e o Centro de Referência Integral de Adolescentes (Cria), representantes do Poder Público fizeram um balanço do atual cenário de assassinatos de jovens – em sua grande maioria negros.
Muitos dos casos são atribuídos à violência policial nos bairros periféricos. De acordo com Waldemar Oliveira, coordenador-executivo do Cedeca, em média, de cada cem policiais investigados, apenas três são punidos.
“Vidas negras importam”
Em seu pronunciamento, Sílvio Humberto criticou o alto índice de jovens negros assassinados e os que defendem a redução da maioridade penal. “Temos que afirmar o tempo inteiro que vidas negras importam. Muitos falam de uma criança com fuzil na mão, mas foi ela que fabricou esta arma?”, indagou.
Para o vereador, é preciso que o Estado potencialize a criatividade desta faixa etária com a oferta de programas educativos e culturais. “É necessário que o governo pense na juventude como início, meio e fim, não só como o final”, apontou.
Ao se referir ao 26 de agosto, Sílvio questionou: “Por que esse dia nunca acaba, por que não chega ao final?”. Mais tarde, na plateia, a estudante Tauana Bonfim, de 17 anos, daria sua resposta: “Porque não é interessante para o sistema branco”.
Na mesa, Beatriz Santos, do grupo Novos Arteiros, falou em tom de desabafo ao representar o bairro de Castelo Branco. “Estamos acostumados em ver a juventude ser assassinada e não deveríamos estar. A bala é só a consequência. Quando a gente é criança, morremos porque não temos representatividade e quando vamos crescendo as pessoas nos impedem de avançar. Aos 18 anos somos mortos. Não queria estar aqui, mas estou porque tem sangue de meus irmãos pretos e pretas sendo derramado”, declarou.
O violino
Maria Ângela de Jesus, integrante do grupo Pela Vida, formado por mães e pais que tiveram filhos assassinados, relatou a experiência de perder a filha de 11 anos. Geovanna Nogueira da Paixão morreu após ser atingida por disparos efetuado por um policial militar no bairro de Santo Inácio, em 24 de janeiro deste ano.
Emocionada, falou do sonho da garota. “Minha filha me pedia um violino, disse que daria quando saísse de férias. Ao invés do violino tivemos que comprar o caixão dela. Justiça lenta é injustiça”, desabafou.
Ainda participaram da mesa Emiliano José, superintendente de Direitos Humanos, da Secretaria de Justiça, Direito Humanos Desenvolvimento Social; Adriana Correia, da Secretaria de Promoção Social e Combate à Pobreza (Semps); Rafael Dantas, da Secretaria Municipal de Políticas para as Mulheres; e André Araújo, do Cria.