Pelo menos 50% dos usuários de ônibus não pagam passagem em Salvador. Seja usando benefícios de gratuidade, ou não passando pela catraca, o número expressivo é um dos indicativos que culminaram na paralisação de motoristas e cobradores na manhã desta quarta-feira (16) e pode ter como consequência uma greve no sistema de transporte na capital. Nos bastidores do ato que tirou cerca de 900 carros da frota de circulação na última manhã, existe um tensionamento entre empregados e empregadores. De um lado os rodoviários cobram há quatro meses um reajuste salarial de 6%, como também um aumento de 10% no ticket alimentação e vacinas. Do outro, os donos das concessionárias alegam que bancar a operação de ônibus em Salvador tem dado prejuízo. Segundo uma auditoria feita pela Grant Thornton, as empresas chegaram, ao final de 2017, com perdas de R$ 280 milhões e, por conta disso, querem fim do contrato com prefeitura. Responsável por mediar a situação, a Secretaria Municipal de Mobilidade Urbana (Semob) reconhece que o imbróglio é delicado. “A gente espera que haja sensibilidade dos patrões que estão oferecendo garantia dos empregos e dos rodoviários que estão querendo aumento de salário”, pediu Fábio Mota, secretário da Semob. A intenção da pasta de mobilidade é encontrar uma proposta que seja o meio termo entre as partes. “A expectativa é o fim das negociaçõe até 30 de maio para que a gente consiga resolver o impasse e a cidade não sofra com uma paralisação geral dos transportes”, reiterou o secretário. Para entender o prejuízo das concessionárias é necessário isolar a ideia de que a tarifa de R$ 3,80 do transporte na cidade é uma das mais caras do Brasil. O centro da questão, segundo Mota, está na crise econômica que diminuiu a demanda por ônibus: “Se a demanda era estimulada em 28 milhões de passageiros, o número caiu para 22 milhões por ano. Mas não caiu só em Salvador e a crise não é só no transporte. Aumentou, no país, o desemprego e diminuíram as obras de construção civil. Consequentemente, também caiu a necessidade das pessoas de andar de ônibus”. Os planos de mobilidade da Semob indicam que, pelo menos, 30% da população de Salvador passou a andar à pé nos últimos anos. Vendo o número de clientes cair, as empresas ainda precisam lidar com a concorrência. A chegada do metrô na capital tirou passageiros do ônibus e ainda existe o transporte metropolitano que compete pelos usuários que restam. “Ônibus metropolitanos tiram mais de 2 milhões de passageiros dos da capital. Na orla de Salvador você tem mais ônibus metropolitano do que urbano. A cada unidade urbana, passam três metropolitanas”. Para piorar a situação da arrecadação no processo, dos passageiros restantes, pelo menos a metade não paga passagem. Segundo Fábio Mota, Salvador tem a maior evasão de ônibus no Brasil, ou seja, é por aqui onde mais as pessoas deixam de passar pela catraca dos transportes públicos. Pelos cálculos da Semob, cerca de 20% dos usuários burlam a catraca e pelo menos outros 30% são beneficiados pela gratuidade. “As empresas entraram com ação na justiça para romper o contrato, mas estamos ouvindo os motivos discutindo os assuntos”, ponderou o secretário que ainda lembrou que pode existir uma luz no horizonte: O BRT. Esperando transportar pelo menos 31 mil pessoas por hora, o novo modal da cidade será operado pelas mesmas empresas que cuidam dos ônibus. “O BRT terá uma capacidade maior de passageiros que terão uma opção com mais conforto para andar por Salvador”, completou Mota que ainda lembrou que a evasão não será mais um problema no novo meio de transporte.
Bahianoticias