A vereadora Marcelle Moraes (PV) foi destituída por membros verdistas da vice-liderança do partido, em Salvador. Ela declarou que a medida configura “claramente perseguição política” dentro da legenda e confirmou que está deixando a agremiação. “Eu não estou deixando o PV. Estou sendo expulsa do PV, literalmente”, disse, em tom indignado, ao ser procurada pela Tribuna na tarde de ontem. Ela promete abrir um processo na Justiça contra o partido. “Estão abrindo a porta e dizendo assim ‘saia, porque vou te colocar para fora de qualquer jeito’. Tramaram contra mim, armaram escondidos os vereadores da Câmara junto com a presidência, para me tirar da vice-liderança. Isso me indignou porque se era tão importante assim, por que não conversar comigo? Por que eu não poderia participar de uma reunião que eu deveria participar? Por que foi tão escondido? Existe uma coisa errada, aí? Não sei”, vocifera. A edil acredita que foi feita uma “armação” contra ela. “Isso me fez ficar muito triste e magoada com o partido. Jamais esperaria isso do Partido Verde. Fui a mulher mais votada do partido. Fui a primeira mulher vereadora do partido na casa, fui a mais votada da história do partido. Sou a vereadora mais votada entre homens e mulheres do partido. Não estou brigando aqui por causa de poder. Estou brigando por ideologia. O Partido Verde se diz tão limpo e está agindo pelas costas, sendo bem sujo”, alfineta a pré-candidata à Câmara Federal.
“Gosto do partido e gosto de muitas pessoas que estão lá dentro. Acredito na ideologia e acho que tem tudo a ver com a minha causa, que é a dos animais. Mas acho que esse tipo de conduta não me representa. Eu não sou representada por política suja, por essa política que a gente está vendo aí o tempo todo nas televisões e que a gente vem tentando limpar. Parece que o partido quer colocar dentro pessoas envolvidas na Lava Jato. Aí eu me questiono, cadê a essência do Partido Verde? Porque tem gente lá dentro que é verde por fora e vermelha por dentro”. Marcelle disse que vai reunir documentos para ingressar em uma nova legenda sem a sanção da perda de mandato. “Vou entrar na Justiça. Estou juntando todas as informações. Não existe reunião sem a vice-presidente estar presente. Nem fui comunicada! Vou atrás de todos os órgãos possíveis para tentar reaver a situação”, avisa ela, que afirma não ter conversado com nenhuma outra legenda até agora.
Partido nega perseguição e alega “rodízio natural”
Dentro do PV, a versão que circula é outra. Fontes da Tribuna informaram que Marcelle já estaria supostamente planejando sair da legenda, seguindo o caminho do irmão (o deputado estadual Marcell Moraes, hoje no PSDB), e que não teria mais janela para isso. “Ela vai querer qualquer possibilidade de criar atrito para poder justificar uma saída sem perder o mandato”, disse um membro da legenda, que preferiu não se identificar.
Procurado pela Tribuna, o presidente estadual e municipal do partido, Ivanilson Gomes, disse que a decisão foi tomada pelos próprios vereadores seguindo a lógica do rodízio natural. “Até onde eu sei, ela não foi expulsa. A Câmara tem quatro vereadores e os quatro vereadores se reuniram. Ela já tinha dois anos como vice-líder e, ao que me parece, eles fizeram o rodízio”, afirma.
O vereador Henrique Carballal (PV) também reiterou a versão do rodízio. “Não tem nenhuma perseguição e nenhum tipo de constrangimento contra a vereadora Marcelle. O Partido Verde está à esquerda da sociedade brasileira, porque combate o status quo no sentido de que defende uma sociedade justa e igualitária. Os partidos de esquerda têm a prática do rodízio de lideranças no parlamento”, justifica.
Tribuna da Bahia