Os brasileiros que declaram voto em Jair Bolsonaro (PSC) para presidente são, proporcionalmente, os que mais compartilham notícias sobre política e eleições no Facebook e no WhatsApp, segundo pesquisa realizada no fim de novembro pelo Datafolha.
Entre os eleitores do deputado federal com acesso à internet, 87% têm conta no Facebook, e 40% deles dizem compartilhar noticiário político-eleitoral na plataforma; 93% têm conta no WhatsApp, e 43% declaram disseminar o conteúdo.
Segundo analistas como o historiador britânico Niall Ferguson, a exemplo do que aconteceu na eleição de Donald Trump nos EUA, também no Brasil o candidato que compreender melhor como usar mídia social terá mais chance de vencer.
Para o consultor Flávio Ferrari, que dirigiu os institutos Ipsos e Ibope, “as redes sociais ganham importância eleitoral na medida em que não são sujeitas às restrições das demais mídias” e poderão “contribuir significativamente para o desempenho de um candidato”.
Entre os eleitores do ex-presidente Lula (PT), que lidera na intenção de voto, 74% têm conta no Facebook, e 31% compartilham noticiário político-eleitoral; 79% têm conta no WhatsApp, e 30% disseminam o conteúdo.
Os de Marina Silva (Rede) têm números próximos aos de Bolsonaro quanto ao alcance (86% no Facebook, 91% no WhatsApp), mas inferiores quanto ao engajamento (28% e 27%, respectivamente).
A pesquisa sobre os meios de informação política foi realizada nos dias 29 e 30 de novembro, com 2.765 entrevistas presenciais em 192 cidades. A margem de erro é de dois pontos percentuais.
De acordo com o Datafolha, 70% dos brasileiros maiores de 16 anos têm conta em redes sociais. E entre eles 84% estão no WhatsApp, em proporção maior que aqueles que têm conta no Facebook, que alcançam 77%.
A elevada adoção do WhatsApp no Brasil torna o serviço de mensagens –que foi comprado pelo próprio Facebook, mas é, do ponto de vista do usuário, desvinculado de sua plataforma– uma das principais arenas para a campanha eleitoral de 2018.
A expectativa é que o WhatsApp seja um foco de notícias falsas. E conter “fake news” em aplicativos de mensagens é ainda mais difícil do que fazê-lo em redes sociais e serviços de busca, mais identificados com o fenômeno nos últimos dois anos.
“No Brasil, ele transcendeu o papel das mensagens para se tornar uma rede de microcomunidades em torno de temas de interesse”, diz Ferrari. “Será uma importante ferramenta para a mobilização de eleitores ativistas.”
O jornalista Edgard Matsuki, que criou o site de checagem Boatos.org em junho de 2013 e há mais de um ano passou a acompanhar também o WhatsApp, afirma que o serviço já foi tomado por “fake news”, em grande parte no formato de áudio.
De início, os boatos surgiam no aplicativo e depois eram usados por sites e contas de Facebook. Mais recentemente, ele passou a ser usado também como ferramenta para a disseminação e busca de audiência para notícias inventadas em sites.
“É ainda mais complicado adotar ações para frear os conteúdos falsos no WhatsApp porque, pelo menos em teoria, todas as mensagens são criptografadas”, diz Matsuki, que defende respeitar essa “possibilidade de o usuário ter um pouquinho de privacidade para conversar”.
No Facebook, mesmo com as diversas ações anunciadas pela plataforma, um levantamento divulgado na última quinta-feira pelo site “BuzzFeed” indica que as notícias falsas cresceram em 2017 em vez de diminuir, apesar de não ser ano eleitoral.
DESCONFIANÇA
Por outro lado, o Datafolha sobre meios de informação traz dados que parecem indicar um questionamento mais atento, pelos brasileiros maiores de 16 anos, das informações que vêm recebendo por meio das redes sociais.
Por exemplo, apenas 3% deles afirmam que todas as notícias veiculadas em mídia social são confiáveis. Para os jornais impressos e os jornalísticos de TV aberta, o percentual está em 14% e 17%, respectivamente.
De maneira geral, 80% afirmam recorrer a telejornais de TV aberta para se informar sobre política, contra 56% que citam sites de notícias, 55% para as redes sociais e 48% para jornais impressos.