No Subúrbio Ferroviário de Salvador, um vagão de trem abandonado ganhou vida e funciona, desde abril deste ano, como uma câmera fotográfica e também como espaço para a realização de oficinas de fotografia. Idealizado por Rosa Bunchaft, mestre em artes visuais e coordenadora do projeto, o FotoTrem visa tornar dos equipamentos inativos, local de criação, experimentação e ensino da fotografia. “A proposta surgiu também de modo que presente e passado apontem, através da participação de seus moradores no projeto, desejos de futuro para o Subúrbio Ferroviário de Salvador, um território singular pela sua beleza e riqueza cultural”, destacou Rosa
Através de um edital setorial de Artes Visuais da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo (Secult) no valor de R$ 131 mil, foi possível, além de restaurar o vagão, pagar funcionários que compõem a equipe do FotoTrem, comprar materiais para as oficinas e contratar educadores do coletivo de arte Filé de Peixe, do Rio de Janeiro, para auxiliar no ensino de técnicas fotográficas experimentais. Com a vinda dos arte-educadores, foi formada a primeira turma de fotógrafos experimentais, com 10 “multiplicadores”, selecionados por dois critérios: a ligação com o Subúrbio Ferroviário e a experiência com trabalhos de educação.
“Olho gigante”
Dentro do trem, há espaço para que as aulas aconteçam e para que a estrutura metálica funcione como uma grande câmera fotográfica, mais ou menos como uma câmera lambe-lambe gigante — que lembra caixotes rudimentares utilizados por fotógrafos ambulantes. “Usando papel fotosensível a gente pode fazer fotografias pequenas e grandes. Dá para fazer isso com uma caixa de fósforo, com uma lata e com um vagão de trem também”, explica Rosa Bunchaft.
Com a possibilidade de Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) do Subúrbio — que teve a liminar que suspendia o edital de licitação derrubada na última quinta-feira (27) –, a fotógrafa afirma que apesar do risco que o projeto corre de deixar de existir caso o VLT saia do papel, há uma função especial do FotoTrem: registrar as mudanças no local.
“Esse projeto está acontecendo em um momento muito especial que é uma perspectiva da ferrovia não existir mais da forma como a gente conhece por causa da possível implantação do VLT. Não era uma coisa prevista do projeto mas ele acaba documentando um momento muito especial”, destacou.