De segunda a sexta-feira, sempre nos três turnos, professores da rede estadual de ensino ministram aulas para um público especial: alunos que buscam estar preparados para a ressocialização, enquanto cumprem pena em uma das oito unidades do Complexo Penitenciário Lemos Brito. São mais de mil deles, ansiosos por uma nova chance. Para fortalecer o processo de formação continuada da equipe de docentes e de outros profissionais que atuam no contexto da educação em prisões, está sendo realizada, nesta sexta-feira (17), a roda de conversa “Docência em prisões: do ser ao tornar-se professor, nesses espaços”, com a presença da professora cearense Clóris Violeta, doutora em Educação em Prisões.
Na Bahia, por meio do Plano Estadual de Educação para Pessoas Privadas de Liberdade e Egressas do Sistema Prisional, por meio de uma parceria entre as secretarias estaduais da Educação (SEC) e da Administração Penitenciária e Ressocialização (Seap), está sendo possível ampliar, desde 2020, a oferta educacional para esse público, seja pela educação formal ou por outras iniciativas educacionais. No Colégio Estadual Professor George Fragoso Modesto, no bairro de Mata Escura, por exemplo, é oferecida a modalidade da Educação de Jovens e Adultos (EJA) para 84 turmas, entre homens e mulheres, desde a alfabetização ao Ensino Médio. A cada 12 horas de frequência escolar, o detento reduz um dia de pena.
“Consideramos a Educação um dos pilares da reintegração social. Precisamos, inclusive, estar antenados com as novas tecnologias pedagógicas e novos saberes, porque, ao contrário do que se pensa, quem está condenado não está alienado, nem privado do mundo. Precisa estar em sintonia e conhecer o que a sociedade está discutindo, seus interesses. Só assim, eles estarão, realmente, integrados quando voltarem ao convívio social”, explica o coordenador pedagógico da unidade escolar, José Antônio Matos.
Troca de experiências
A professora Clóris Violeta integra o Grupo de Pesquisa do Núcleo de Investigação e Práticas em Educação nos Espaços de Restrição e Privação de Liberdade da Universidade Federal de São Carlos, EduCárcere/UFSCar, onde concluiu a sua tese de doutorado, com ênfase na Educação em Prisões. Ela enfatiza que esses encontros são uma oportunidade de trocas de experiências para a melhoria do processo de aprendizagem de quem se encontra privado de liberdade. “Precisamos socializar conhecimentos e experiências para promover melhorias nesses espaços, buscando alternativas para que essas pessoas se sintam mais humanas”, ressalta.
Presente entre os participantes da roda de conversa, os professores Reni Bonfim e Eunice Santos relatam suas experiências de lecionar para os internos. “Há seis meses aqui, tenho a convicção de que só trabalha com o ensino voltado aos estudantes internos quem, realmente, tem o comprometimento com a educação. Existe uma relação muito respeitosa e harmoniosa e eles sentem quando existe o engajamento, o compromisso social com a Educação”, conta. Sua colega já ensina na unidade escolar há 15 anos e revela que o diferencial na Educação em Prisões é a oportunidade que é oferecida dos alunos se reintegrarem ao convívio social. “Muitos chegam aqui sem saber escrever o próprio nome e é uma conquista quando tomamos conhecimento que eles já estão inseridos no mercado de trabalho. É a prova de que a Educação realmente transforma”, revela.
Fonte: Ascom/SEC