Contemporâneos dos grandes poetas, na acepção de produtores, de construtores de filosofia, ciência e artes, em especial aqueles que interagiram mais diretamente, sempre se disseram pessoas agraciadas por viverem no mesmo tempo deles.
E nós? Também não somos agraciados por estarmos nos relacionando filosófica e socialmente com este que é reverenciado pela elite intelectual, não só brasileira, mas internacional, se Hermenêutica da Desigualdade eleva Taurino Araújo ao invejável ápice dos pensadores universais?
Essa tem sido a própria sina desse jurista e cientista em constante busca da verdade, dos diversos lados, de cima e de baixo, de dentro e de fora, numa Interrogação Ativa que potencializa ao máximo, em todos nós, o foco das atividades de refletir, ver, tocar, experimentar, observar, manipular, exemplificar, comparar, descritas por Antoni Zabala.
Taurino é a quarta onda interpretativa a que se refere Fátima Di Gregório. Para ele, o problema “discursos” nunca esteve no desenvolvimento das ideias, mas na introdução, que prenuncia a sua intencionalidade; e na conclusão, que lhe empresta sentido coletivo. Isso faz (e amplia) a diferença do resultado e, antes, a curiosidade sobre as perguntas, essenciais às verdadeiras respostas alcançadas.
Teoria comprometida com a realidade-dogmática-zetética-dogmática, cujo contributo maior tem sido o reforço e a construção da figura do receptor, também protagonista, em, pelo menos, 19 áreas do conhecimento, é o auge historiográfico de um inédito direito comparado, acessível a todos, para Ana Maria Dias.
Não bastasse isso, partindo de quem foi literalmente emancipado para ser o mais jovem Secretário Municipal de Administração no Brasil, é uma Epistemologia genuinamente Brasileira, conforme Pedro Lino de Carvalho Jr.
Consagração do canônico brasileiro e do anticanônico da ruptura, com o qual sonhou a Semana de Arte Moderna (Eduardo Boaventura), a Hermenêutica da Desigualdade exerce, do ponto de vista científico, função igualmente emancipatória: a de sermos enxergados lá fora “pelos critérios da diferença e da autenticidade” (Oswald de Andrade).
É assim que Taurino Araújo eleva ao extremo o “espírito problematizador” de Edgar Morin, ao valorizar a “dúvida, fermento de toda atividade crítica”, na solução de problemas, nos diversos níveis (eu, nós e isto), o que exige, sempre, renovado exercício da faculdade mais ativa na infância, ou seja, a curiosidade ali aniquilada.
Para Manuela Motta, tal ápice se dá em razão de uma genial sacada: “em Taurino Araújo, a intuição ou ‘pressentimento’ do todo (Jean Grondin), espetacularmente, ocorre sem prejuízo da concepção do particular, que, aqui, coincidirá com o próprio desigual”.
Por Zéu Barbosa – Sociólogo – MTE-DRT-BA-414.