Terminou ontem com saldo bastante positivo a III Semana Nacional do Livro e da Biblioteca (SNLB-2022), da Universidade Federal do Sul da Bahia, Campus Jorge Amado de Itabuna, sob a coordenação da professora Rosângela Cidreira, da Coordenadora do Sistema de Bibliotecas – UFSB Raquel Santos, de Vanesca Hosana e Vanessa Brugni, do arquivista Danilo Fragoso Pitombo e dos estudantes Geanne Silva e Wallace Pinheiro.
O pensador baiano Taurino Araújo comandou o colóquio de abertura
Segundo a professora Rosângela Cidreira, “a III Semana Nacional do Livro e da Biblioteca (SNLB-2022) com o tema Participação Cidadã com Mediação às Avessas foi um evento riquíssimo que trouxe momentos de reflexões não só sobre a prática pedagógica inovando na na na metodologia ao propor uma nova forma de discutir e de dar aulas. A mediação às avessas proposta pelo Taurino Araújo, bem como também trouxe reflexões sobre as mazelas sociais voltadas para o racismo para a fome, a partir da leitura de o quarto de despejo de Carolina Maria de Jesus. O palco aberto para recitação e artes também foi um sucesso. Muitas pessoas se inscreveram para declamar poemas, monólogos e cantar. Professores não só da instituição, como também da educação básica participaram e comunidade também esteve presente apesar de a Universidade se encontrar num local de difícil acesso, pois é perto da Ceplac. Estamos convictos que esse evento se torna necessário para para unir a todos os públicos, professores, funcionários alunos e comunidade UFSB, e vai trazer para a universidade a própria comunidade, que está perto, nas proximidades e para que a comunidade também venha até a universidade conhecer a universidade e sobre alguns temas interessantes como eu falei anteriormente a questão da pedagogia, das mazelas sociais e de todo o enfrentamento para construir o letramento democrático, reforçando a construção da figura do receptor também protagonista, como propõe Taurino Araújo em sua Hermenêutica da Desigualdade”.
O tema de abertura deste ano foi “Participação Cidadã com Mediação às Avessas: da locução escritural à interlocução espontânea com as diversas audiências, para o desenvolvimento do letramento democrático nos campos da filosofia, da ciência e das artes – Os 100 da Semana de Arte Moderna” que esteve a cargo de Taurino Araújo e convidados, que discorreu em pessoa sobre a sua Mediação às Avessas, a partir de 12 provocações filosóficas feitas pela professora Rosângela Cidreira, bem ao estilo da Mediação às avessas.
Mediação às Avessas é uma Pedagogia Ativa de Aprendizagem.
Segundo a professora Rosângela Cidreira, Mediação às avessas é uma metodologia de apresentação criada pelo pensador baiano Taurino Araújo que pressupõe a participação ativa dos diversos públicos-alvo. A participação é direcionada pelos questionamentos feitos pelo público ao mediador incentivando-se o deslocamento cêntrico para a figura do receptor também protagonista, categoria específica de sua Hermenêutica da Desigualdade: uma Introdução às Ciências Jurídicas e também Sociais, cujo lançamento mundial completou 04 (quatro) anos no de 24 de outubro de 2022.
Além das palestras, todas realizadas com base na Mediação às Avessas, a III Semana Nacional do Livro e da Biblioteca (SNLB/2022) com o Tema Participação Cidadã com Mediação às Avessas procurou ser um
- Espaço de troca de livros durante a realização da III Semana Nacional do Livro e da Biblioteca Participação Cidadã com Mediação às Avessas (SNLB/2022);
- Espaço de discussão com propostas temáticas que dialogam com a Globalização, a Cidadania, a Democracia e o Letramento Democrático;
- Espaço de leitura de textos dramatizados com a distribuição do Selo Literário aos participantes inscritos.
- Palco aberto para recitação e artes.
A escolha do método desenvolvido por Taurino Araújo é porque o mundo globalizado solicita dos estudantes novas competências [entre elas o letramento democrático], pois o mercado de trabalho cobrará dele a qualificação e o domínio das novas tecnologias além do conhecimento de línguas estrangeiras, para atuar em mercados multiculturais. “Logo, o cidadão do lugar cede espaço para o cidadão global, o cidadão do mundo [ligado às teias contingenciais desse grande mundo]”, lembra Luciane Stallivieri (2016).
A seguir as provocações filosóficas realizadas pela professora Rosângela Cidreira e as respostas de Taurino Araújo.
- É sobre amor e complexificação do mundo e um mapeamento completo da realidade.
Taurino responde. Rosângela, é natural do homem querer mudar a própria realidade, tornando-a melhor. Para tanto, não há único caminho, mas a necessidade de caminhar.
Caminhante, são tuas pegadasa estrada, e nada mais;caminhante, não há caminho,o caminho se faz ao andar.Ao andar se faz caminho,que ao olhar para trásÉ somente vereda apagada,que nunca se volta a pisar.Caminhante, não há caminho,senão estrelas no mar.Antonio Machado
Com base tanto na indução científica, quanto na indução filosófica, os meus percursos sempre vão em direção àquele homem que vive e sofre no meio de nós a que se refere Pierre Jaccard. Com base em ao menos 19 áreas do conhecimento é assim que a Hermenêutica da Desigualdade percorre a realidade-dogmática-zetética-dogmática em movimento constante.
2- Taurino Araújo, qual o ponto de partida do meu Humanismo?
Taurino responde. Para Celso Azar (2010, p.3) o emprego da palavra HUMANISMO remete “a um movimento cultural determinado em uma época definida”:
(…) uma nova face da morte e dos deuses, a multiplicação dos sujeitos pela comunicação, um caminho seguro em direção a si mesmo; trata-se de reconstruir seu lugar na ordem cósmica, remodelando a si mesmo e ao seu destino.[1]
As grandes descobertas que se acumulavam, sobretudo as de caráter científico: Copérnico (1473-1543) afirma o movimento da Terra em torno do Sol em seu Tratado das Revoluções dos Corpos Celestes. Galileu Galilei (1564-1641) e a incipiente luneta e cálculos matemáticos sofisticados para a época, confirma a teoria de Copérnico e descobrirá as leis da queda dos corpos.
Kepler (1571-1630) expôs em 1609 as três leis do movimento dos planetas. Michel Servet (1509-1553) foi o primeiro a conceber a ideia da circulação do sangue.
A descoberta da pólvora, a invenção das armas de fogo, das agulhas de marear – bússola – alteram o cenário das guerras, conquistas e da navegação marítima.
“Se a tudo isso for acrescida a invenção da imprensa e a difusão da cultura humanista que principia a resultar desse fato, compreende-se a efervescência intelectual e a expectação da época do Renascimento”, postula Antonio José Romera Valverde.
3- Que é Hemenêutica da Desigualdade?
Taurino responde. No que interessa a esta Mediação às Avessas, segundo Mario Nelson da Costa Carvalho, autor do artigo Taurino Araújo, pensador do agora, quem sabe se situar conforme a sua diferença dispõe de mais independência de sentimento, pensamento e ação.
- Para Eduardo Boaventura, a Hermenêutica da Desigualdade é uma teoria do direito e das ciências sociais que considera a desigualdade conceito fundamental para a solução de problemas com utilização ampliada aos negócios, saúde, governo, educação, e terceiro setor a partir dos variados âmbitos da Hermenêutica em geral, da Filosofia, Sociologia, Economia, História, Cibernética, Antropologia, Semiótica e do Direito.
- Saber elaborado para que a análise das sentenças judiciais e dos processos sociais, individuais e criativos parta do mapeamento o mais abrangente possível da realidade; depois, formule respostas provisórias com base na “lei” e no conhecimento; a seguir, formule perguntas e dúvidas apropriadas em face das respostas provisórias e, por último, estabeleça respostas definitivas dentro da aplicação de uma “lei” específica, tendo em vista realidade-dogmática-zetética-dogmática.
- É uma epistemologia genuinamente brasileira — afora o conceito de verdade absoluta [conforme sonhou a Semana de Arte Moderna, em sua tensão por consagrar o canônico brasileiro e ao mesmo tempo ser o anticanônico da ruptura] — abrangente de pelo menos 19 áreas conhecimento e, por isso, considerada por Nelson Cerqueira um monumento inovador au-delà de Sócrates, Platão e Aristóteles.
4- Pensando em voz alta sobre o método autoenográfico que empreguei.
Taurino responde. Rosângela, esse método diz respeito à realidade subjetiva, a fenomenologia, aqueles lugares ocupados pela pesquisa qualitativa permitem a busca da subjetividade, que se apresenta como um conjunto de processos “os quais mudam em face do contexto em que se expressa o sujeito concreto” (González Rey, 2002, p. 51)[2].
- Para exemplificar, foco do case TAURINO ARAÚJO dizia respeito à manutenção de níveis os mais satisfatórios de motivação, tudo a ver com o cultivo do “espírito alegre”, a partir de [uma] verdadeira predisposição para captar não apenas “grandes ideias”, mas os subprodutos da vida diária, os sonhos, os trechos de conversa ouvidos na rua, os “pensamentos marginais”, do cultivo do “espírito alegre”, que anima a “imaginação sociológica” e possibilita, por exemplo, “uma combinação de ideias que não supúnhamos combináveis” (…) “um interesse realmente muito grande em ver o sentido do mundo que falta aos [meramente] técnicos” conforme Charles Wright Mills apud Castro & O´Donnell (2015, p.211), mas conscientemente, ajudam a revisitar e compreender, com o emprego de idêntico método hermenêutico,
- tanto aqueles diversos achados obtidos através da Especialização em Gestão de pessoas, carreiras, liderança e coaching, expandindo e aprofundando tal conceito para experimentar, aprender e ensinar a experimentar tal estado de gratificação a maior parte de tempo possível, na complexificação do mundo das mudanças inesperadas e das relações, afirmando, com maior segurança, a responsabilzação por si mesmo, em primeira pessoa, na base autotélica da concentração máxima (CSIKSZENTMIHALYI: 1992)79 , quanto ao que ainda não se possui ou se pretende manutenir,
- dirá Taurino Araújo: “Se você quer subir, não aperte descer”, quanto as vantagens da construção de um humanismo genuinamente brasileiro para a plena realização da cidadania para um indivíduo:
- A maneira mais fundamental e útil de pensar a respeito desse assunto envolve a aceitação do conceito de motivação intrínseca, que se refere ao processo de desenvolver uma atividade pelo prazer que ela mesma proporciona, isto é, desenvolver uma atividade pela recompensa inerente a essa mesma atividade. (Deci: 1996, p. 21, apud Bergamini: 1997, p. 33) 80 .
Taurino Araújo em retrato. Outubro de 2022.
5- método que empreguei para dar voz a mim mesmo e aos lugares ocupados por sujeitos reais, em meu humanismo.
Taurino responde. As minhas indagações tão queridas sobre História global: Um ideal formulado por Braudel. “Globalidade não é querer escrever uma história completa do mundo… simplesmente o desejo, ao nos defrontarmos com um problema, de ir sistematicamente além de seus limites” (Braudel, 1978, p.245)
A minha busca por Uma História total: Febvre gostava de falar em história simplesmente (histoire tout court) em oposição à história econômica, social ou política[3].
É necessária, portanto, numa perspectiva metodológica [uma pedagogia ativa de aprendizagem] de adaptação frente às novas circunstâncias e, obviamente, as sociedades sofrem de alguma forma as influências oriundas da globalização [tornando-se imprescindível melhor lidar com elas]. Destaca-se aqui que a globalização é um processo que exerce fortes impactos sobre a democracia, e também sobre a cidadania e a participação. Daí a pertinência da Mediação às Avessas desenvolvida pelo pensador baiano Taurino Araújo, com vistas ao fortalecimento de categoria especifica de sua Hermenêutica da Desigualdade, que é o “receptor também protagonista” na perspectiva de um “funcionalismo eclético” que, além das influências estruturais, aposta na centralidade da ação do sujeito, a partir de quem ocorre — a ação e as relações recíprocas — segundo Max Weber (1991, p. 3) e importa, portanto, em ação social, “uma ação que, quanto a seu sentido visado pelo agente ou os agentes, se refere ao comportamento de outros, orientando-se por este em seu curso”. A ação social é a categoria central de sua sociologia. E, para Taurino Araújo, o núcleo da mudança inesperada que a Mediação às Avessas também proporciona.
Sendo assim, o mundo interconectado e plural incentiva mudanças, mudanças que precisam ser repensadas, conceitos que necessitam de uma redefinição a fim de atenderem às exigências de um novo contexto, com propostas mais reflexivas, interculturais e marcadas pelo diálogo e aprendizagens mútuas. Destarte, é nesse contexto que o funcionalismo eclético do Humanismo em Taurino Araújo aposta na ação dos sujeitos em desvantagem, sendo função da universidade municiá-los com as ferramentas de uma teoria da ação (Max Weber) com vistas ao efetivo usufruto concreto de direitos a que se propõe a epistemologia genuinamente brasileira que é a sua Hermenêutica da Desigualdade.
6- O emprego de método antropológico em meu humanismo.
Taurino responde. SEGUNDO CELSO AZAR No horizonte da teoria antropológica de há muito se reconheceu que o problema da relação entre observador e observado recobre e desdobra em outra dimensão o problema da relação e interação entre culturas; é na distância criada pelas diferenças que se pode pôr em perspectiva, e então, perceber e afirmar a identidade, em um movimento que só realmente acontece quando é multilateral[4].
7– Taurino Araújo e o verdadeiro Maslow, em se você quer subir não aperte descer.
Taurino responde. Amor pela filosofia, ciência e artes presentes no pensamento de Taurino Araújo em sinergia entre o individual e o social, por conta de suas matrizes de aprendizagem com Abraham Maslow quando cursei Magistério em Ubatã (1984-1985), embriões da Hermenêutica da Desigualdade e da Mediação às Avessas.
(…) grupos são locais onde os seres humanos — logo, as ideias — podem florescer. Equipes cuidadosamente escolhidas e supervisionadas aumentarão a segurança do indivíduo e encorajarão um trabalho criativo e colaborativo — assim como disse o especialista em gestão norte-americano Ken Blanchard: “Nenhum de nós é tão esperto quanto todos nós”. (Marcousé et al: 2014, p. 71) [5]
Maslow propõe uma “ciência humanística” que englobe assuntos tanto da vida pessoal e social, quanto teorias políticas e econômicas (Ferreira, 1979)[6] Em seu artigo “Is a Normative Social Psychology Possible?”, o autor desenvolve a proposta de uma nova abordagem ao “problema da administração”, refletindo acerca de quais seriam as forças envolvidas na possível sinergia entre o individual e o social de forma não a criar um manual para somente maximizar a produção de funcionários, mas sim apresentar valores tanto mais eficientes quanto verdadeiros (Maslow, 1968). (Ferreira, 1979) [7]
Taurino Araújo retoma, inclusive, entre o profano e o sagrado, a experiência de haver, por 15 dias, numa peregrinação ao Japão realizada entre os dias 22 de outubro e 6 de novembro de 2005, “buscado primavera no outono japonês”
O contato com o altamente tecnológico, o profano e o ‘sagrado’, a ‘orientação’ e a visita ao Monte Fuji, a ida a muitos templos, inclusive a pedra ‘por onde o Deus descendeu, religião, rituais e mitos”, as experiências civilizatórias, sociais, jurídicas igualmente tratadas em sua especialização na Escola de Negócios da Pontíficia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (2021):
8– o meu outro ponto de partida nas tradições helênicas.
Taurino responde. “Helenismo” no sentido mais amplo do termo: “no sentido em que o empregava Arnold Toynbee (1969), por exemplo, referindo-se não apenas à cultura das sociedades gregas, mas também a Roma e à civilização romana, que compreendia também nessa designação”. Antropologia [entretanto] não é nome grego, afirma Ordep Serra (1999: p. 15). “Trata-se de uma palavra artificial, forjada a partir do grego. No mundo heleno da Antiguidade, não se abriu o espaço semântico necessário para a criação desse termo”:
No entanto, uma coisa é certa: embora toda moderna, a Antropologia tem uma de suas raízes nos Estudos Clássicos. A investigação sistemática das civilizações antigas erigiu um referencial que muitos dos fundadores, muitos dos responsáveis pela construção e consolidação da Antropologia, nunca deixaram de considerar. A incessante reflexão do Ocidente sobre o mundo do helenismo preparou, influenciou e marcou a formação do pensamento antropológico.[8]
Quando os homens do fim da Idade Média e da Renascença redescobriram a antiguidade greco-romana, e quando os Jesuítas fizeram do grego e do latim a base da formação intelectual, não foi isto uma forma primeira de etnologia? Reconhecia-se que nenhuma civilização pode pensar a si mesma, se ela não possui algumas outras para servir de termo de comparação. (Lévi-Strauss, 1996, p. 319-320 apud Azar, 2010, p. 1) [9]
9– O meu elogio e a minha Crítica da Palavra
Taurino responde. Rosângela, segundo Rafael Ramis Barceló, Os filólogos se apropriaram de todos os textos – salvo os jurídicos; os juristas se portaram como donos dos textos “jurídicos”;
os filósofos ficaram com a minguada herança do pensamento romano e o resto foi passado aos historiadores da sociedade, da ciência, da arte.
Os sociólogos e os antropólogos pouco ou nada tinham a dizer, em princípio, de uma sociedade tão refinada, cosmopolita e modelar como a romana, luz e norte de todas as posteriores. Nada havia em “Roma” de estranho, de alteridade frente à Europa do século XIX.
Roma era, nem mais nem menos, como que “o” cânone da literatura, da história, da arte e do direito, era o “eu” e o “nós” do passado. Era o espelho em que se deveriam olhar os povos para comprovar o seu grau de civilização.
A antropologia estava pensada para as sociedades antigas e primitivas – inclusive a Grécia, de certa forma, poderia ser assim considerada –; mas para “Roma”, apesar de Fustel de Coulanges, não.
Permitir que um antropólogo entrasse em “Roma” era tolerar um questionamento da civilização ao qual o positivismo liberal-burguês não estava disposto em absoluto. (ibidem, p. 46) [10]
10– Os grupos e a opressão do indivíduo na Mediação Às Avessas
Taurino responde. Veja o que diz o cientista político Camilo de Lélis: Não é sobre grupos, mas sobre indivíduos. Não é sobre verdades absolutas, mas sobre verossimilhança. Em Hermenêutica da Desigualdade: uma Introdução às Ciências Jurídicas e também Socais (Del Rey: 2019), Taurino Araújo oferece teoria para discutir a fundo questões como humanismo, etnocentrismo, alteridade, relações de parentesco, família e propriedade, pluralismo e multiculturalismo e políticas públicas separando os campos da epistemologia (ciência), da doxa (simples opinião) e até mesmo o Mito da caverna, de Platão: “os homens não nascem presos, alguém os aprisiona”…
Retomo a linha do tempo entre o humanismo clássico e o humanismo “aberto, democrático e universal” de Lévi-Strauss, conforme propõe Regina Paulista Fernandes Reinert, tudo através daquela ordem inicialmente sofística que subjaz a pluralidade cultural, mas confere o universal almejado pela cientificidade, análise da função simbólica e exame da passagem entre natureza e cultura, relativização da verdade em contraponto ao fazer meramente dogmático, bem como a complexificação do direito e da vida como um todo nas sociedades complexas, humanismo que igualmente “proíbe que se conheça o homem primitivo (sociedades ágrafas) por oposição ao homem civilizado (sociedade escrita), mas exorta que as investigações possam conduzir à compreensão de todos os povos por meio de suas culturas” ao reverenciar-lhes as singularidades[11].
Em outras palavras, trata-se de atentar, conforme postula Clifford Geertz (1989, p. 5), para quem a cultura é compartilhamento de um conjunto de construções simbólicas e significados que se lhe atribuem naquelas “teias de significado”:
Acreditando, como Max Weber, que o homem é um animal amarrado a teias de significados que ele mesmo teceu, assumo a cultura como sendo essas teias e a sua análise; portanto, não como uma ciência experimental em busca de leis, mas como uma ciência interpretativa, à procura do significado. É justamente uma explicação que eu procuro, ao construir expressões sociais, enigmáticas na sua superfície[12].
11– Taurino Araújo, isso mais parece um novo apelo ao método autoetnográfico que você vem utilizando.
Taurino responde. Sim, Rosângela e isso serve tanto para abstrair quanto considerar situações concretras
[Pois] é importante reter o elo entre a dimensão do indivíduo e as questões macrossociais. É a partir das interações desses indivíduos, inclusive com os sujeitos pesquisadores, que poderemos estar mais próximos de captar o sentido das representações sociais e das estratégias individuais, permitindo um grau de análise mais acurado. A autoetnografia vem reforçar o vigor e a reflexividade de um conhecimento que advoga o relevo dos microprocessos (individuais) para o entendimento dos processos macrossociais, como a desigualdade, a discriminação, o racismo institucional – que interessam mais de perto a este trabalho[13].
Tal ocorre, por exemplo, nas considerações de Ludwing Matheus Von Kac Kneit (2019) e Eliane Boa Morte (2019), sobre a Hermenêutica da Desigualdade:
Sob a ótica do “direito a uma vida feliz”, a sua Hermenêutica da Desigualdade: uma introdução às Ciências Jurídicas e também Sociais me faz lembrar a conhecida máxima de Carlo Dossi: “pensare col cuore e escrivere colla testa“. Ali Taurino trabalha tanto com o ideal de corrigir o que estiver “errado” para fazer correção de rumo (funcionalismo) quanto com a criatividade do indivíduo que atua, sofre, existe e funciona nas diversas estruturas sociais, a exemplo da econômica, apesar da desordem e do “erro” (estruturalismo) e, na tensão dessa musicalidade, concebe também um inédito humanismo com “pegada” sempre na realidade.
Há (ou deveria haver) espaço para todos na cidade, mas Taurino lembra que até as necessidades psicológicas, muitas vezes, são “tratadas” em função da pressão de grupos sociais. É a “medicamentalização”, o uso não médico de medicamentos que levam as pessoas a produzirem euforia, libido ou sobriedade que normalmente não desejariam, pois assim satisfazem à coletividade, mas continuam sofrendo por causa do crime, da depressão, falta de moradia, da exclusão e da pobreza que deveriam ser contornados através da delicadeza e do respeito individual e coletivo, da consideração total das diferenças. Ao “pensar com o coração e escrever com a cabeça”, Taurino Araújo defende — entre outras coisas — “mais abraços e menos remédios”[14].
Apoiados em reflexão, emoção e ação, vamos construir vida nova, para além da reprodução automática de textos e palavras. Através de seu método, Taurino conclama ao banquete, à sociedade de tod@s e para tod@s, ao aperto de mãos, ao abraço fraterno e ao respeito e consideração incondicionais à diferença. Para João Augusto Frayze-Pereira, é na inteligibilidade do outro que “posso sentir-me tocado ao mesmo tempo em que toco” (Merleau-Ponty) e “a mão de outrem vem ocupar o lugar deixado por uma das minhas”[15].
12– A Hermenêutica da Desigualdade os 100 da Semana de Arte Moderna e a consagração do canônico brasileiro.
Rosângela, para responder a essa última provocação filosófica sobre o meus pensamento, a Hermenêutica da Desigualdade em geral e a Mediação às Avessas no particular, recorramos à epígrafe de Hermenêutica da Desigualdade, no texto da tese e encontraremos Johannes Kepler e os idênticos 22 anos que percorri:
“Aquello que hace 22 años profeticé (…) Finalmente lo traje a la luz, y conocí su verdad más allá de todas mis expectativas (…) Nada me detiene. Me entrego a una verdadera orgía sagrada. Los dados fueron lanzados. El libro fue escrito.No me importa que sea leido ahora o solo por la posteridad. Puede esperar 100 años por su lector, si el propio Dios esperó seis mil años para que un hombre completase Su obra”. Johannes Kepler
Há, portanto, retomada histórica daquele instante no qual, a um só tempo, surgiram retórica (tão cara ao Direito) e democracia de participar e conseguir votos, ou seja, revisitação do humanismo desde as suas origens gregas passando pela Renascença e por Lévi-Strauss, através da construção de narrativa consagradora das diversidades culturais consolidando numa só tacada o direito à diferença, a participação política e o imperativo de falar por outrem nas democracias representativas, os mecanismos mínimos de racionalidade capazes de suprir o déficit de legitimidade democrática das decisões judiciais a que se refere Rafael da Silva Rocha em Teoria da argumentação jurídica aplicada à atividade jurisdicional, decorrentes de sua devida fundamentação, sub censura. [16]
Para Antonio Menezes Filho (2022), teríamos no estado de letra, ciência e arte na metodologia desenvolvida por Taurino Araújo, exemplificação daquela verdadeira predisposição para captar não apenas “grandes ideias”, mas os subprodutos da vida diária, os sonhos, os trechos de conversa ouvidos na rua, os “pensamentos marginais”, do cultivo do “espírito alegre”, que anima a “imaginação sociológica” e possibilita, por exemplo, “uma combinação de ideias que não supúnhamos combináveis” a (…) “um interesse realmente muito grande em ver o sentido do mundo que falta aos [meramente] técnicos”.
- Taurino Araújo é escritor, jurista e advogado. Sua Hermenêutica da Desigualdade é considerada pela crítica uma Epistemologia genuinamente brasileira conforme sonhou a Semana de Arte Moderna, consagradora do canônico brasileiro e do anticanônico da ruptura com incursão em 19 áreas do conhecimento.
- Doutor em Ciências Jurídicas e Sociais pela Universidad del Museo Social Argentino (Buenos Aires), especialista em Planejamento Educacional pela Universidade Salgado de Oliveira (Rio de Janeiro), Bacharel em Direito pela Universidade Estadual de Santa Cruz- UESC, 1993 e Especialista em Gestão de Pessoas: Carreiras, Liderança e Coaching pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS). Especialização em História e Antropologia, Faculdade Serra Geral – Minas Gerais, 2022. Secretário do Ano – Ubatã. Medalha Thomé de Souza – Câmara Municipal de Salvador – CMS, 2011. Título de Cidadão Benemérito da Liberdade e da Justiça Social João Mangabeira, maior honraria do Estado. Assembleia Legislativa do Estado da Bahia, 2013. Cidadão Honorário de Salvador – CMS, 2009. Cidadão Honorário de Gongogi – CMG, 2009. Título de Cidadão Feirense, Câmara Municipal de Feira de Santana, 2016. Sessão Especial da Câmara de Vereadores de Itabuna comemorativa do Cinquentenário de Taurino Araújo, com debate sobre a sua Hermenêutica da Desigualdade e reflexos na Universidade e Ensino Públicos e Gratuitos. Moção de Congratulações da Câmara de Vereadores de Itabuna pelo transcurso do Cinquentenário de Taurino Araújo e sucesso de sua Hermenêutica da Desigualdade: Uma Introdução às Ciências Jurídicas e também Sociais, 2019. Destaque 2018 – Amigo do Hapkido, Confederação Brasileira de Hapkido, 29 de maio de 2018. Investidura na patente de Grande Inspetor Geral da Ordem, Grau 33, pelo Supremo Conselho do Grau 33 do Rito Escocês Antigo e Aceito da Maçonaria para a República Federativa do Brasil, 2022. Membro Honorário do Supremo Conselho do Grau 33 do Rito Escocês Antigo e Aceito da Maçonaria para a República Federativa do Brasil. Placa-moção de Honra ao Mérito ao cidadão Taurino Araújo – Secretaria de Educação, Ubatã, 2022. Título 10 anos de Maçonaria Regular – Loja Maçônica Francisco Borges de Barros de Estudos e Pesquisas Maçônicos nº 137, Grande Loja Maçônica do Estado da Bahia (GLEB), 2022. Sócio Efetivo do Trissecular Instituto dos Advogados da Bahia – IAB e Sócio Efetivo da Associação Bahiana de Imprensa – ABI.
[1]Azar Filho, Celso Martins. Humanismo, antropologia e filosofia. Ética e Alteridade. Seropédica: Editora da UFRRJ (EDUR). Data de acesso, 12 jul 2022, v. 14, n. 04, p. 2019, 2010.
[2]Andrade, Celana Cardoso; Holanda, Adriano Furtado. Apontamentos sobre pesquisa qualitativa e pesquisa empírico-fenomenológica. Estudos de Psicologia (Campinas), v. 27, p. 259-268, 2010.
[3] Idem, p. 91.
[4]AZAR FILHO, Celso Martins. Humanismo, antropologia e filosofia. Ética e Alteridade. Seropédica: Editora da UFRRJ (EDUR). Data de acesso, 12 jul 2022, v. 14, n. 04, p. 2019, 2010. p. 3. Idem, p.7.
[5] Araújo, Taurino. Se você quer subir não aperte descer: a intuição motivacional do verdadeiro Maslow no case Taurino Araújo. Monografia de Especialização. Escola de Negócios da Pontíficia Universidade Católica do Rio Grande do Sul: 2021, p.51.
[6]Ferreira, Arthur Arruda Leal; Curvello, Flávio Vieira; Monteiro, Gabriel Gouvêa. Técnica de governo e práticas psicológicas: humanismo e empreendedorismo. Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/pdf/tp/v17n1/v17n1a20.pdf> Acesso: 17 jan. 2021.
[7]Ferreira, Arthur Arruda Leal; Curvello, Flávio Vieira; Monteiro, Gabriel Gouvêa. Técnica de governo e práticas psicológicas: humanismo e empreendedorismo. Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/pdf/tp/v17n1/v17n1a20.pdf> Acesso: 17 jan. 2021.
[8]Serra, Ordep. A antropologia, a mitologia e sua escrita. Classica: Revista Brasileira de Estudos Clássicos, v. 11, n. 11, p. 14-35, 1999.
[9]Azar Filho, Celso Martins. Humanismo, antropologia e filosofia. Ética e Alteridade. Seropédica: Editora da UFRRJ (EDUR). Data de acesso, 12 jul 2022, v. 14, n. 04, p. 2019, 2010, p. 1.
[10]Barceló, Rafael Ramis. Em Torno à Antropologia Jurídica Romana. Res Severa Verum Gaudium: Porto Alegre, v. 6, n. 1, p. 39-60, jun. 2021.
[11]Matos, Camilo de Lélis Leite. Humanismos diferentes em Taurino Araújo e Lévi-Strauss. Disponível em: <https://noticialivre.com.br/humanismos-diferentes-em-taurino-araujo-e-levi-strauss/ >. Acesso em: 29 junho 2022.
[12]Geertz, Clifford. A interpretação das culturas. LTC, 1989, p. 5.
[13]Santos, Silvio Matheus Alves. O método da autoetnografia na pesquisa sociológica: atores, perspectivas e desafios. Plural: Revista de Ciências Sociais, v. 24, n. 1, p. 214-241, 2017.
[14] Ludwing Matheus Von Kac Kneit. Taurino Araújo: além do século XXI. Publicado originalmente no Jornal A Tarde, Salvador, p. A2, 13 maio. 2019.
[15] Eliane Boa Morte. Taurino Araújo na dose certa. Posfácio, Hermenêutica da Desigualdade, op. cit., p. 201.
[16]Matos, Camilo de Lélis Leite. Humanismos diferentes em Taurino Araújo e Lévi-Strauss. Disponível em: <https://noticialivre.com.br/humanismos-diferentes-em-taurino-araujo-e-levi-strauss/ >. Acesso em: 29 jun 2022.
[1]Matos, Camilo de Lélis Leite. Humanismos diferentes em Taurino Araújo e Lévi-Strauss. Disponível em: <https://noticialivre.com.br/humanismos-diferentes-em-taurino-araujo-e-levi-strauss/ >. Acesso em: 29 jun 2022.