Todos os anos, em outubro, países de todo o mundo celebram o Mês Nacional de Conscientização do Câncer de Mama, chamado “Outubro Rosa”. Desde 2021, segundo dados da Organização Mundial de Saúde, o câncer de mama passou a ser o mais comum da humanidade. No Brasil, para o ano de 2022, foram estimados 66.280 casos novos, aproximadamente 44 casos por 100 mil mulheres.
Dados recentes da Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) revelam que nos últimos dois anos a incidência de câncer de mama entre mulheres mais jovens aumentou. No Brasil, a incidência hoje está entre 4% e 5% dos casos em mulheres com menos de 35 anos. Antes, apenas 2% dos casos eram observados nesta faixa etária. “O aumento de casos em mulheres mais jovens é um desafio porque elas estão fora do grupo de rastreamento mais frequente, que é a partir de 40 anos. E, nesses casos, tumores mais agressivos são mais frequentes, como os subtipos inflamatórios”, alerta a oncologista Angélica Nogueira Rodrigues. A justificativa para a antecipação da faixa etária ao diagnóstico parece ser multifatorial, incluindo início mais precoce da menstruação, adiamento da primeira gestação, redução do número de gestações por mulher, sedentarismo e obesidade.
A mamografia é capaz de identificar tumores pequenos e a recomendação é que mesmo sem sintomas, mulheres a partir dos 40 anos façam anualmente o exame clínico das mamas e entre 50 a 69 anos uma vez a cada dois anos. Já mulheres consideradas de alto risco, como aquelas com história familiar de câncer de mama em parente de primeiro grau antes dos 50 anos, devem procurar acompanhamento individualizado.
“O autoexame é uma maneira de conhecer o próprio corpo e procurar ajuda em qualquer sinal de alteração, mas ele não substitui o exame clínico por não ser possível identificar lesões pré-malignas, por exemplo, que são muito pequenas e nesta fase podem ser tratadas mais facilmente. É um dos motivos da doença ser, frequentemente, agressiva em mulheres mais jovens, que acabam descobrindo a doença em estágios mais avançados”, diz Angélica. No Brasil, as Diretrizes para a Detecção Precoce do Câncer de Mama revelam que a mamografia é o único exame cuja aplicação em programas de rastreamento apresenta eficácia comprovada na redução da mortalidade por câncer de mama.
Segundo a médica, o estilo de vida pode influenciar este aumento. “Hoje, as mulheres têm um menor número de filhos ou uma gestação mais tardia, além de uma alimentação inadequada e menos tempo para atividades físicas associados à correria do dia a dia”, afirma. As recomendações para evitar qualquer tipo de câncer são diminuir ou abolir o consumo de álcool, manter um peso saudável e uma alimentação equilibrada e manter uma rotina de exercícios.
No Brasil, excluindo os tumores de pele não melanoma, o câncer de mama é o mais incidente em mulheres de todas as regiões, com taxas mais altas nas regiões Sul e Sudeste. É também, a primeira causa de morte por câncer em mulheres em todas as regiões do Brasil, exceto na região Norte, onde o câncer do colo do útero ocupa essa posição.
“Ainda existe bastante falta de informação e crença em mitos que devem ser esclarecidos como o de que sutiã com bojo pode influenciar no diagnóstico. Isso só reforça a importância de uma campanha de conscientização como o Outubro Rosa. O câncer de mama, graças aos avanços da medicina, é uma doença com grandes possibilidades de cura, mesmo aqueles mais agressivos, principalmente quando diagnosticado em estágio inicial, o que ocorre com a grande maioria das mulheres que fazem a mamografia anual de rastreamento”, diz Angélica.
Quais são os sinais e sintomas do câncer de mama?
• Caroço (nódulo) endurecido, fixo e geralmente indolor. É a principal manifestação da doença, estando presente em mais de 90% dos casos.
• Alterações no bico do peito (mamilo).
• Pequenos nódulos na região embaixo dos braços (axilas) ou no pescoço.
• Saída espontânea de líquido de um dos mamilos.
• Pele da mama avermelhada, retraída ou parecida com casca de laranja.
Sobre Dra. Angélica Nogueira-Rodrigues
Angélica Nogueira-Rodrigues é MD-PhD em oncologia clínica. Possui pós doutorado em oncologia pelo MGH/Harvard University, Doutorado em Oncologia pelo Instituto Nacional de Câncer, Mestrado em Saúde da Mulher pela Universidade Federal de Minas Gerais. Possui Fellow em Pesquisa Clínica pelo Instituto Nacional de Câncer. Pesquisadora e professora adjunta da Faculdade de Medicina da UFMG. Desenvolve atividades didáticas na graduação, residência médica em Oncologia e pós graduação senso stricto. Idealizadora, membro fundadora do Grupo Brasileiro de Tumores Ginecológicos (EVA). Diretora SBOC nacional gestão 19-20 e 21-23. Chair Gynecologic Oncology LACOG. Membro permanente da Câmara Técnica de Medicamento – CATEME-ANVISA. Idealizadora do Movimento Brasil sem Câncer do Colo do Útero. Diretora técnica da clínica DOM Oncologia. Membro câmara técnica Ministério da Saúde para estratégias de eliminação do câncer do colo do útero.