Todos os anos, milhares de brasileiras recebem o diagnóstico de câncer de mama. Algumas encaram como uma sentença, outras seguem em busca da cura e da superação. Para 2022, o Instituto Nacional do Câncer (Inca) estima 66.280 novos casos no Brasil, com 17.825 mortes. A Bahia terá 3.460 novos casos, sendo 1.180 em Salvador. Apesar da expressividade dos números, avanços no diagnóstico e no tratamento [cada vez mais personalizado, integrado e menos mutilador] reforçam o combate à doença cujas chances de cura são superiores a 90%, se descoberta precocemente.
“A abordagem personalizada é uma grande conquista da ciência, significa maior eficácia e maior chance de cura. Os tumores têm diversos tipos e cada um se comporta de uma forma. Por isso, a partir da análise individual, com a determinação de tamanho, localização, presença ou não de gânglios axilares e das características anátomo-patológicas e imunohistoquímicas do tumor, é possível estabelecer o melhor tratamento para cada paciente”, explica o mastologista Ezio Novais, ex-presidente da Sociedade Mundial de Mastologia e um dos coordenadores da Mastologia da Clínica AMO, mais uma vez engajada na campanha Outubro Rosa.
“Independentemente da idade, qualquer alteração na mama deve ser investigada. Toda vez que a mulher perceber a presença de um nódulo ou de alterações da pele ou do mamilo, deve procurar imediatamente o mastologista. No entanto, o mais importante é a prevenção através da mamografia”, enumera. O mastologista diz que a idade para início da realização anual do exame (aos 40 anos, conforme a Sociedade Brasileira de Mastologia) deve ser antecipada em pacientes com histórico pessoal ou familiar.
Na maioria dos casos, o tumor maligno inicial da mama é assintomático. Alguns evoluem rapidamente. Em outros, o tempo entre a primeira divisão celular e o momento em que se torna palpável pode ser de até 10 anos. “Esse dado é suficiente para explicar a grande importância da mamografia no processo de rastreamento, pois o exame digital é capaz de detectar o câncer na fase pré-clínica (lesões mínimas em tamanho, de 2 a 3 mm), antes de o tumor ser perceptível no exame físico ou no auto-exame. Essa detecção representa o verdadeiro diagnóstico precoce do câncer de mama”, pontua Ezio Novais.
Assim como outras doenças, a abordagem ideal do câncer de mama é a multidisciplinar, envolvendo médicos de várias especialidades (mastologistas, radiologistas, patologistas, oncologistas clínicos, radio-oncologistas e cirurgiões plásticos) e profissionais de saúde de diversas áreas (fisioterapeutas, psicólogos, nutricionistas e enfermeiros). “Cada componente desse time tem seu papel específico no diagnóstico e no tratamento do câncer de mama. A soma de todas essas expertises, o cuidado integrado, resulta em maior sucesso no tratamento e significa acolhimento, fundamental para o enfrentamento da doença”, ressalta o médico.
Tratamento
Do ponto de vista dos avanços, o câncer de mama conquistou inúmeros deles nos últimos anos. “Novas técnicas cirúrgicas, o surgimento da oncoplastia (área dedicada à reconstrução e reparação da mama após a cirurgia), novas drogas quimioterápicas e imunoterápicas e novos equipamentos de radioterapia, entre outros avanços, levaram a melhores resultados, com um índice maior de cura. E a maior conquista é, sem dúvida, a possibilidade do tratamento customizado para cada paciente”, enumera a oncologista Mayana Lopes, coordenadora de Oncologia Mamária da AMO.
Sobre imunoterapia, a médica diz que o tratamento vem sendo usado em vários tipos de câncer e pode ser uma opção no tumor de mama localmente avançado. “Os imunoterápicos são medicamentos que estimulam o sistema imunológico da paciente a reconhecer e destruir as células cancerosas de forma mais eficaz. Podem ser usados em pacientes com tumores grandes ou com linfonodos axilares comprometidos para aumentar a chance de resposta à quimioterapia antes da cirurgia, diminuindo o tumor e elevando as chances de cura”, esclarece a oncologista.
Fatores de risco – Entre os fatores de risco para o desenvolvimento do câncer de mama estão os comportamentais/ambientais (obesidade, sobrepeso após a menopausa, sedentarismo, bebida alcoólica e exposição frequente a radiações ionizantes), e hereditários/genéticos (história familiar de câncer de mama ou de ovário e alterações genéticas), sendo que este grupo representa de 5% a 10% dos casos.