A falta de vagas de trabalho obrigou milhões de brasileiros a abrir o próprio negócio nos últimos anos.
Emanuelli Eyng até pensava no assunto, mas sempre adiou o desejo de ter o próprio negócio: “Nunca tive coragem de largar a CLT”. Aí veio a pandemia, ela perdeu o emprego e não conseguiu outro; precisou virar a chave. O marido ajudou e o porta-malas do carro agora é “estoque” da pequena empresa de cosméticos.
“Eu empreendi na marra. Naquele momento ali da pandemia não tinha opção de emprego. Foi uma oportunidade, né? Peguei minha rescisão, investi nos produtos e, desde então, venho vendendo”, conta.
Em casa, no carro, na rua: não importa onde. Com dificuldades para recuperar a carteira assinada em um cenário de incertezas do mercado de trabalho, muitos brasileiros deram um jeito de empreender para pagar as contas, manter o orçamento. O sonho de virar patrão pode até ter contado, mas o que pesou mesmo foi a necessidade.
Em 2020 e 2021, quase metade dos novos negócios surgiu por falta de opção – aproximadamente 14 milhões de brasileiros que não encontraram outra alternativa. O chamado empreendedorismo por necessidade ficou em patamares superiores aos registrados em 2015 e 2016, quando o país enfrentou uma recessão. Os dados estão em um levantamento inédito do Sebrae, que fez um retrato dos micro e pequenos negócios no Brasil.
Outro sinal de que empreender virou uma urgência é a idade de quem se tornou o próprio patrão: 30% deles são bem jovens, têm até 34 anos.
“Os empregos acabam ficando mais escassos, especialmente no período de crise e pós-crise. Então, recentemente, os pequenos negócios passam a ter mais relevância nesse contexto de emprego, renda e economia de uma maneira geral”, explica Weliton Perdomo, gerente regional do Sebrae/PR.
“Muitas pessoas perderam seu emprego e o mercado não está fácil. Ou empreende ou fica sem dinheiro”, ressalta o empreendedor Wagner Daniel.
Quando perdeu o emprego cinco meses depois do início da pandemia, bateu a ansiedade na Patrícia Menegheli, que tinha acabado de voltar ao mercado de trabalho. “Eu acabei ficando um pouco nervosa. Poxa, e agora, o que é que eu vou fazer? Aí eu fui empreender. Falei: ‘Vou conseguir, nem que seja para pagar minha luz, água. Vou conseguir’”, conta.
E o crochê, que ela aprendeu com a avó, virou renda oficial. Com talento e a ajuda das redes sociais, os pedidos estão aumentando.
“Sempre tem uma encomenda ou outra. Não é uma coisa que substitua o que você tinha antes, mas te ajuda. Acho que se eu me profissionalizar no que eu estou fazendo, eu acredito que vou ter muito mais cliente e talvez eu consiga ganhar até um pouco mais do que eu ganhava antes”, sonha.
Fontes: G1