As dificuldades impostas pela pandemia fizeram com que 4 milhões de estudantes brasileiros, com idades entre 6 e 34 anos, abandonassem os estudos no ano passado. Com isso, a taxa de abandono escolar chegou a 8,4% em 2020, segundo pesquisa C6 Bank/Datafolha. Entre os que pararam de estudar no ano passado, 17,4% não têm intenção de voltar em 2021.
Essa é a primeira pesquisa a mostrar como a crise sanitária afetou os estudantes do país e a permanência deles nas escolas e universidades, uma vez que ainda não há dados oficiais disponíveis.
O Brasil tem uma população de 90,1 milhões de habitantes com idade entre 6 e 34 anos, dos quais 53% estavam matriculados em escolas ou universidades no ano passado, de acordo com estimativa feita com base na Pnad Contínua de 2019.
Os dados foram coletados entre os dias 30 de novembro e 9 de dezembro. O Datafolha realizou 1670 entrevistas, por telefone, com estudantes matriculados nas redes pública e privada ou com seus responsáveis. A margem de erro é de 2 pontos percentuais, para mais ou para menos, e os resultados têm confiabilidade de 95%.
O C6 Bank tem realizado uma série de pesquisas para entender os impactos da pandemia no país sob diversos aspectos, como a retomada de hábitos individuais (compras, transporte e lazer), os efeitos sobre diferentes grupos sociais e, agora, sobre a educação.
A evasão escolar é uma das maiores preocupações de especialistas e havia um temor de que ela aumentasse em 2020 com a crise sanitária. Já se sabe que o surto de ebola no Oeste da África, por exemplo, fez aumentar a evasão entre meninas e os índices de gravidez na adolescência.
De acordo com o levantamento C6 Bank/Datafolha, a taxa de abandono em 2020 foi maior entre os estudantes de curso superior: 16,3% dos universitários pararam de estudar no ano passado. No Ensino Médio, a taxa é de 10,8% e no Ensino Fundamental, de 4,6%. Estudantes de classes sociais mais baixas também lideraram os índices de abandono. A taxa foi 54% maior entre os alunos das classes D e E (10,6%), na comparação com estudantes das classes A e B (6,9%).
Problemas financeiros estão entre os principais motivos do abandono escolar em 2020. Entre os que apontaram essa dificuldade para manter os estudos no ano passado, 19% ficaram sem condições de pagar a escola ou faculdade e 7% precisaram ajudar na renda familiar. Outros 22% justificaram o abandono por terem ficado sem aula e 20% relataram dificuldade com o ensino remoto.
Tratada como uma tragédia silenciosa, a evasão escolar afeta diretamente a economia de um país, os índices de violência e até a expectativa de vida da população. Quem conclui o Ensino Básico, por exemplo, tem em média quatro anos a mais de vida do que quem abandonou os estudos, segundo pesquisa da Fundação Roberto Marinho divulgada no ano passado. A estimativa é de que o Brasil perde R$ 372 mil ao ano com cada jovem que deixa a sala de aula, de acordo com o mesmo levantamento. Já a redução de um ponto percentual nos índices de evasão pode evitar cerca de 550 homicídios por ano.
A Pnad Contínua 2019, divulgada em julho do ano passado pelo IBGE, apresentou pela primeira vez dados de abandono escolar no Brasil. Segundo a pesquisa, o atraso ou abandono escolar atingia 12,5% dos adolescentes de 11 a 14 anos e 28,6% dos brasileiros de 15 a 17 anos. Entre jovens de 18 a 24 anos, quase 75% estavam atrasados ou abandonaram os estudos.
Com números assim, o país ainda está longe de atingir as metas do Plano Nacional de Educação. A parcela de adolescentes de 16 anos com ensino fundamental completo, por exemplo, é de 78,4% e precisaria chegar a 95% em três anos. Alguns objetivos que deveriam ter sido alcançados em 2016 ainda não foram cumpridos e metas que precisam ser atingidas até 2024 podem ficar ainda mais distantes com os efeitos da pandemia.